Conto
sobre a vivência na Cidade: A Praia.
Um fim de semana ensolarado no Rio.
Íris abre sua janela;
Vê o céu azul, quase sem nuvens e
sente a primeira baforada da manhã - “milgrau” - vento quente, típico dia de verão
carioca, em que se torna insuportável o estar em casa. Chegaram às férias de
Janeiro e no Morro Santa Marta, onde Íris mora não tem muitas opções de lazer.
Primeiro pensamento do dia, “praia”
com os amigos...
Íris passa um “zap” para as “migas”
e combina o encontro na barraca do “Paulo e Jairo” no posto-9 em Ipanema...
O chegar à praia se torna um evento
único... depois de conhecer o autor August Endell na Universidade e ler seus
ensaios sobre a rua, ela decide experimentar a “cultura dos olhos” no espaço
urbano em que vive.
Íris como moradora de Botafogo, prefere
neste caso ir de metrô ao ônibus. Neste dia em que decide turistar em sua
cidade, e fazer o percurso com outros olhares da rua, ela se conecta com o que
há de sublime na sua trajetória ao mar, o transitar e se deixar levar.
Ao sair do metrô na Praça General
Osório, ela se depara com uma feira, que no seu cotidiano como moradora da
cidade desde que nasceu, seria um evento normal, apenas uma “feira”. Mas desta
vez, ela vê uma diversidade de pessoas trabalhando com variedades de produtos,
sejam roupas, comidas, artesanatos, acessórios, bolsas, quadros e uma infinidade
de aparatos de casa. Sempre como
passante, desta vez, decide parar e conversar com alguns artesãos, olhar cada
material, reparar nas estampas de Arte Naif pintadas à mão nas camisas, que
estavam sendo comercializadas para os turistas.
Neste aproveitar o dia, se sente
como “gringa” na agitada zona sul de fim de semana em mês de férias, onde
rostos diferentes se cruzam, diversas nacionalidades e idiomas inundam os sons
dos transeuntes. A maioria dos moradores locais neste mês ensolarado parte para
as suas viagens internacionais. Outros chegam, com expectativas de curtir a
cidade e se aprofundar na cultura local.
Muitas pessoas chegam com a mesma
ideia de aproveitar um dia de sol na praia mais urbana do “pedaço”. Afinal de
contas, Ipanema é puramente um ostentar nato carioquês – regado de musas em
canções do Vinícius de Moraes. “Só que não”...
Nesse frenesi de chegar à praia,
muitos vão de ônibus, chegando de diversas partes da Cidade, meninos surfando
em seus tetos, vans lotadas, carros, outros chegam de skates, patins,
bicicletas, a pé ou metrô.
Neste percurso do metrô a praia, Íris
se vê monitorada, muitas câmeras a acompanham nas ruas e olhares dos mais
diversos apontam em sua direção. Mas ela não se intimida, anda observando tudo
com um olhar de descoberta e investigação, sente-se “divando” com sua havaiana
preta, short jeans rasgado, camiseta branca, óculos do camelô, mas... igual ao
“ray ban” original e sua bolsa de lado, contendo os mais diversos aparatos para
se embelezar no pós-praia. Afinal, ela também queria ser vista, como a musa de
Ipanema, mesmo que por instantes.
Nas ruas que se conectam a praia,
há um número variado de bares com suas mesas e cadeiras nas calçadas, onde o
clima quente impulsiona o “flâneur” botequeiro.
Mas Íris segue seu caminho chegando a Avenida Vieira Souto. Fechada para
carros aos domingos, esta avenida permite um balé urbano, com intensidade de
endorfina no ar. Muitos fazem seus exercícios matinais, exibindo seus corpos
malhados, suados e depois um “tibum” no mar para recarregar e se energizar para
a semana que segue.
Ao caminhar na calçada ela vê
diversos grupos jogando vôlei de praia e futebol de areia... ops... - ela
avista o Romário e o Renato Gaúcho, mas pensa, nada de fotos!... eles são
locais por aqui como eu.... - e continua sua caminhada como personagem que
interage e se conecta com o entorno.
Chegando à barraca do “Paulo e
Jairo” no posto-9, pede sua cadeira, a água de coco e se coloca frente ao mar.
Enquanto toma sua água, avista grupos de turistas e ri sozinha, enquanto espera
a galera chegar, como se fosse uma também.
Sentada em sua cadeira em frente ao
mar, fecha os olhos, escuta sons não familiares, idiomas diversos, gargalhadas,
cheiro do churrasco do “Argentino” com molho chumichurri e pensa que a vida
urbana é carregada de mazelas, mas a beleza da rua e da cidade está no olhar.
Neste revelar da metrópole, como
interagir e se conectar a todos esses estímulos?
Assim com Endel (2002), a rua é
igualmente o lugar privilegiado da vivência de uma experiência social,
transformada em percepção estética. [...] A rua, tal como, é o espaço por
excelência dessa experiência, pois nela é possível viver plenamente o choque
perceptivo e psicológico causado pela presença da multidão.
Para Endell bem como Íris o
cotidiano da cidade atraí, o percurso e o ócio na praia foram à resposta para a
personagem deste conto.
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